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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O NEGRO LACRAIA AJUDOU O SANTA CRUZ A POPULARIZAR-SE


Naqueles primeiros tempos do Clube das Multidões, Lacraia um jovem elegante, tornou-se numa figura exponencial no Santa. Sua presença na equipe despertava a atenção e era uma espécie de chamariz para que o clube ganhasse muitos adeptos nas camadas menos favorecidas da população. É verdade que Lacraia pertencia a uma família tradicional do Recife. Filho de médico, tinha o respeito de todos. Entretanto, o que mais impressionava os adeptos do futebol era sua presença, como centromédio, no time do Santa, numa época em que o futebol era praticado por gente branca, pois tinha sido introduzido no País por ingleses ou por pessoas, geralmente de pele clara, que haviam estudado na Inglaterra.


O nome desse baluarte dos primeiros passos do Santa Cruz não consta na ata de fundação, embora ele tinha insistido para assiná-la. Não obteve o consentimento do presidente José Luiz Vieira. Tinha participado de todos os movimentos que antecederam o surgimento do novo clube, mas não compareceu à histórica reunião de 3 de fevereiro de 1914 porque estava a braços com os livros, preparando-se para o vestibular de engenharia. No dia seguinte ao da fundação tentou assinar a ata, todavia, o austero presidente não permitiu.

Até 1920 ficou diretamente ligado ao clube, tendo formado uma intermediária que se tornou famosa: Zé de Castro, o popular Lua Cheia, Lacraia e Manuel Pedro, também conhecido como Professor porque ensinava futebol aos portugueses que militavam no Clube Esportivo Almirante Barrozo.

Foi Lacraia quem desenhou o escudo do Santa Cruz, depois que este já era tricolor, o mesmo escudo que ainda hoje simboliza a pujança e a grandeza de um clube que tem enfrentado inúmeras crises, através dos anos, mas que tem sabido superá-las.

A idéia do escudo nasceu numa ocasião em que um amigo do pai de Lacraia, o velho Ramiro Costa, proprietário da secular livraria que levava seu nome, perguntou ao centromédio, se ele não estava interessado em mandar confeccionar uns escudos para o Santa Cruz. Sentindo que o clube precisava de um distintivo que identificasse seus diretores e simpatizantes, não hesitou em responder favoravelmente. Ele mesmo elaborou o desenho, e a encomenda seguiu para os Estados Unidos, pois naquele tempo, tanto no Rio como em São Paulo não haveria facilidades para fazê-los. No Recife nem se fala.

Quando algum tempo depois, Lacraia foi informado da chegada dos escudos, a notícia estava acompanhada da conta, cinco contos de reis. Apenas para tomar o real como parâmetro, digamos, cinco mil reais. Àquela altura, o presidente era Álvaro Ramos Leal, mais tarde médico, pai do também médico e dirigente do clube em meados do século passado, Nilson Ramos Leal. Álvaro seria também avô do ponta-direita Carlinhos (Ramos Leal), de vitoriosa passagem pelo Santa – ainda defendeu o América e o Sport.

Quando foi cientificado do compromisso que teria que ser saldado com Ramiro Costa, Álvaro deixou seu companheiro assustado ao dizer que o assunto seria levado à apreciação da diretoria. Se esta não aprovasse, nada feito. Lacraia que pagasse do seu bolso, uma vez que o clube nada tinha encomendado.

Sem dinheiro para saldar um débito tão alto, o centromédio ficou apreensivo. Porém, para sua tranqüilidade, os demais diretores acharam lindos os escudos, que podiam ser usados no chapéu – um dos costumes da época – com os menores sendo presos à lapela e à gravata. E o Santa pagou a conta.

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