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quinta-feira, 26 de julho de 2012

O verdadeiro Rei de Pernambuco


Recentemente, quando jogava pelo Náutico, o atacante Carlinhos Bala, afirmou que, caso o seu time conquistasse o Campeonato Pernambucano 2010 (o que acabou não acontecendo), ele seria o único jogador em Pernambuco a levantar o título Estadual atuando pelos três principais times da capital pernambucana. Não tardou muito para pesquisadores do futebol do Estado afirmarem que Carlinhos Bala estava errado. Ao todo, três atletas conseguiram tal feito. E um deles chama-se Roberto Fontana Madeira, o Betinho

O goleador do Arruda 

Apesar de ter uma relevância histórica para o futebol de Pernambuco, o ex-jogador Betinho nunca teve o reconhecimento devido. Pouca gente sabe, por exemplo, que ele foi o único, em toda a história, a receber uma placa por um golaço marcado no estádio do Arruda. Um dos maiores campeões da história do Campeonato Pernambucano, com nove títulos estaduais, Betinho conseguiu a proeza de ter levantado a taça pelos três maiores clubes do Recife: Santa Cruz, Sport e Náutico. No entanto, apesar de ter tido a sua importância nos Aflitos e na Ilha do Retiro, foi mesmo no Arruda que o atleta fez história.

No reduto tricolor, de fato, esse jogador sobressaiu-se. Como ponta-direita, acabou tornando-se o maior artilheiro da história do estádio do Santa Cruz vestindo a camisa do clube. Com 112 gols anotados no Arruda, e sendo 98 deles pelo Tricolor, Betinho foi o atleta que, jogando com a camisa do Santa, nos seus domínios, mais vezes balançou as redes na história do estádio.

No entanto, para deixar claro, é justo que se diga que jogando no mesmo Arruda, o atacante Baiano (ex-Santa Cruz, Sport, Náutico e Central), marcou 128 gols em sua carreira, durante a década de 1980. É, indiscutivelmente, o maior artilheiro da história do estádio. Porém, esse jogador deixou a sua marca 70 vezes com a camisa do Náutico, outras 56 pelo Santa Cruz, e fez mais um gol pelo Sport e outro pelo Central.

Atualmente

Aos 65 anos, Betinho atualmente mora no bairro de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, e vive bem como aposentado ao lado da segunda mulher, Adail Toscano. No primeiro casamento, Betinho teve três filhos: Roberta, Pablo e Naatuza Madeira. Nenhum quis seguir os caminhos esportivos. Até há cerca de três anos, o ex-jogador ainda dava aula em escolinhas de futebol, mas preferiu parar para se dedicar mais à família.



Arquivo Pessoal/Betinho
Betinho (com faixa na cabeça) em partida no estádio do Arruda - ainda sem ampliação
O gol que Pelé não fez

Um dos momentos mais marcantes dos oito anos em que Betinho vestiu a camisa tricolor aconteceu em 1978, no seu último ano no clube. Em uma partida válida pelo Campeonato Pernambucano daquele ano, o ponta-direita conseguiu fazer um famoso gol que Pelé nunca fez: chutando do meio de campo. O fato teve uma grande repercussão nacional na época, chegou a sair no programa do Fantástico, da Rede Globo, pois era a primeira vez que alguém conseguiu realizar tal feito, após a tentativa do Rei do Futebol - “gol que Pelé não fez” aconteceu na Copa de 1970, no México, no jogo contra a antiga Tchecoslováquia, vencido pelo Brasil por 4 a 1. Naquele ano a Seleção seria tricampeão mundial. 

“O goleiro deles pegou a bola em um ataque nosso e querendo armar logo o contra-ataque chutou para o meio de campo. Lá estava eu. Bem no círculo central. Lembro que Givanildo ainda gritou para mim: ‘Lança para Nunes’ Mas não pensei duas vezes. O goleiro estava meio adiantado. Matei a bola com a perna direita e chutei com a esquerda. Só sei que caiu bola, goleiro e tudo dentro do gol. A torcida ficou louca”, rememora com alegria Betinho, que complementou: 

“Esse lance foi mais difícil do que aquele em que Pelé não conseguiu fazer o dele, porque a bola do Rei estava paradinha e a que eu peguei estava em movimento”, concluiu.

E esse momento não virou histórico apenas por isso. O chute do “meio da rua” contra o modesto Ferroviário pernambucano, deu uma placa a Betinho. Fato que faz dele, até hoje, o único jogador da história do Arruda a ter marcado, literalmente, um Gol de Placa no estádio tricolor. A homenagem está fixada no hall de entrada do clube, próximo às piscinas. “Foi realmente um gol merecedor de uma placa. E ela está aqui para que todos vejam quem foi e o 
que fez Betinho pelo Santa Cruz”, disse o curador da Sala de Memórias do Arruda, Dirceu Paiva, que, aos 79 anos de vida, recorda-se bem do ídolo que foi Betinho. 
Arquivo Pessoal/Betinho
Ao lado de Pelé, em jogo contra o Santos  

O gol no novo Arruda 

Em 1972, no ano que o Santa seria tetracampeão estadual (na mesma campanha do histórico penta), aconteceu uma das mais importantes remodelações do Arruda. O estádio passou a ter a capacidade aumentada de 25 mil para 65 mil pessoas (ainda haveria outra ampliação em 1982). Na reestreia do “novo” estádio, Betinho foi o primeiro jogador a balançar as redes. Houve dois amistosos para comemorar a ampliação do estádio. No primeiro jogo, o da estreia propriamente dita, o Santa empatou sem gols com o Flamengo – apesar dos bons arremates ao gol de Betinho, contidos pelo goleiro rubro-negro, Renato. No segundo jogo, no entanto, o gol. E foi contra a Seleção Brasileira Olímpica. Seria o tento da vitória coral: 1 a 0. Na ocasião, apesar da alegria, nem tudo saiu bem para Betinho. “O primeiro gol foi marcado quase no final do jogo. Estava no bico da pequena área, recebi um lançamento e chutei cruzado. Só que o Abel 

(Braga, ex-zagueiro e atualmente treinador) vinha correndo e caiu com o corpo em cima da minha perna esquerda. Acabei passando três meses inativo”, recorda-se Betinho, com expressão de lamento.

O carinho do público

Ponteiro arisco, de futebol objetivo, Betinho veio do Botafogo do Rio para o Santa Cruz, em 1971, aos 23 anos, e ajudou a conquistar a maior sequência de títulos do Santa Cruz: o pentacampeonato pernambucano. Artilheiro e atleta de extrema habilidade, até hoje o ex-jogador é lembrado com carinho e saudade pelos torcedores. “Betinho? O ponta? Jogava demais. Era muito habilidoso, fazia muitos gols. Excelente jogador. Fazia de tudo no Arruda”, rememora o fanático torcedor do Santa, Vupian Novas, de 89 anos. E, de fato, esse amor persiste entre torcida, jogador e clube. “Se eu for assistir um treino que seja lá no Arruda, os caras logo vão me abordando. O pessoal mais antigo se lembra muito bem. Se eu vou, por exemplo, no Mercado de São José. Todo mundo fala comigo. Isso me deixa feliz, não é? Mostra um reconhecimento, prova que a minha passagem marcou bastante, sobretudo no Santa Cruz, onde eu passei mais tempo e ganhei mais títulos”, diz Betinho, que guarda no coração um sentimento de amor e carinho recíproco com a massa tricolor.


Arquivo Pessoal/Betinho
Edição de 78 do Diario de Pernambuco, dando destaque ao ponta Betinho

Lembranças apagadas


Muito mais do que os 1891 quilômetros que separavam Espírito Santo de Pernambuco, havia na tradição dos clubes de cada cidade um verdadeiro abismo. Do humilde Desportivo Ferroviário até a chegada no já imponente Santa Cruz, em 1971, tudo parecia já pré-determinado para Betinho. Antes, porém, apenas duas pequenas conexões pelos não menos tradicionais Cruzeiro e o Botafogo, até, enfim, chegar ao Tricolor pernambucano, onde o ponta-direita mais famoso da história do Santa viveria momentos marcantes. Hoje, no entanto, apenas os mais velhos se recordam do que aconteceu na década de 1970. Fato que pode ser atribuído tanto aos poucos registros que há em relação a Betinho, como também ao descaso do Santa Cruz com os ídolos do passado.“Infelizmente, aqui no Estado, a gente não costuma dar valor aos craques do passado, como acontece em outros lugares. Mas tenha a certeza: Betinho foi um craque e quem o viu jogar sabe disso”, garantiu o repórter da Transamérica, Hélio Macedo, 66 anos, com 43 dedicados à profissão, que viu Betinho jogar as 12 temporadas no Recife.


Arquivo Pessoal/Betinho
Betinho quando atuava pelo Botafogo

Futebol no sangue

Roberto Fontana Madeira. O sobrenome de Betinho não deixa mentir. O ex-ponta é sobrinho do zagueiro Fontana, tricampeão mundial pela Seleção Brasileira em 1970, no México. Com uma pitada de influência do tio para ingressar nos gramados, Betinho iniciou a carreira no futsal, ainda no Espírito Santo. Passou pelas categorias da Desportiva Capixaba, do Cruzeiro, até ser transferido para o Botafogo do Rio de Janeiro, onde começou a carreira profissionalmente. Ganhou espaço no time titular do Fogão também em 70, graças à convocação do quarteto ofensivo do Alvinegro para a Copa do Mundo. Com a ingresso de Rogério, Roberto, Jairzinho e Paulo César Cajú na equipe verde-amarela, o jovem ponta assumiu a titularidade do time, ao lado de Zequinha, Careca e Ferretti. Logo se transeriu para Pernambuco. Porém, ao contrário do tio mais famoso, nunca chegou à Seleção.



Vídeo com Betinho

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