Quando o Santa Cruz ainda engatinhava, poucos meses depois de fundado, por um triz não foi desfeito. O clube necessitava de 35 mil réis, mais ou menos equivalente a 35 reais - e só tinha em caixa 6 mil.
Numa agitada reunião, um dos presentes teve uma idéia estapafúrdia: o clube seria dissolvido, sendo os 6 mil réis existentes gastos no caldo de cana elétrico, uma novidade que era a maior sensação do Recife, funcionando no Bar Constantino, na Rua da Aurora.
Alexandre Carvalho, um dos fundadores, considerou uma afronta. Deu um murro na mesa e pronunciou uma frase histórica: “O Santa Cruz nasceu e vai viver eternamente!” Logo saiu em busca de uma solução, nem que para isso o Santa tivesse que sair à rua “esmolando para missa pedida”, como era costume naquele tempo.
Em companhia de Quintino Paes Barreto foi procurar um construtor abastado, amigo de seu avô. Ao explicar a finalidade da visita obteve um não, categórico, e, em seguida, uma reprimenda: “Menino, esse jogo de bola é para estrangeiro. Para vocês existe cinema na Rua Nova. Diverte muito mais”.
Alexandre não conseguiu esconder seu desapontamento. O ricaço sentiu a angústia do rapaz Cruz, e quando ele ia se despedir, fez um ligeiro ar de riso, puxou-o para um canto da sala e indagou: “Cem mil réis dão pra vocês começarem?”
Não precisa dizer que os dois rapazes ficaram estupefatos. O aperto coral desapareceria com apenas 29 mil réis, já que havia necessidade de 35 mil (existiam 6 mil em caixa) para a aquisição de material esportivo. Como nunca tinham visto uma cédula de cem mil réis, arregalaram os olhos quando receberam a nota novinha em folha. Era a primeira grande doação feita ao Santinha.
Uma condição apresentada pelo empresário era que o fato ficasse em sigilo. E ficou. Só em 1967, quando o Santa festejava o 53º aniversário de fundação, seu nome foi revelado. Era Francisco Maciel, o primeiro membro de uma ilustre família que forneceu vários colaboradores ao Tricolor.
Espanto geral entre os demais garotos com o tamanho da oferta. O clube adquiriu o material de que necessitava e ainda ficou com uma boa reserva. E o cara que queria transformar o Santa em caldo de cana meteu a cara no chão, envergonhado que estava, com sua descabida sugestão.
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